quinta-feira, janeiro 20, 2005

Paraguai

Pois bem, esta semana tive o prazer de experimentar a aventura de ir a Ciudad del Este, no Paraguai.
Pra começar não é nem um pouco recomendável ir de carro. Vá de van, a pé, de ônibus, taxi... Mas de carro não é a melhor opção. Deixe a loucura do trânsito pra quem está acostumado com ele. E não adianta dizer que no Rio, Sampa ou Goiânia é pior. Não é!
A primeira coisa que tive contato foi com a ponte da amizade.. a famosa. Além do trânsito caótico que não anda (a não ser para os milhares de mototaxis que passam zunindo pela esquerda como vespas enfezadas) já pude ver as pessoas andando apressadas em direção às compras. Várias. De todas as idades, de todos os jeitos.
Observando a cerca do lado esquerdo dá pra ver perfeitamente os buracos e os remendos mal feitos que logo são destruídos novamente. Mais a frente um senhor e mais uns dois ajudantes "demonstravam" o uso dos buracos: tranqüilamente jogavam mercadorias enroladas em plásticos pretos para o lado brasileiro lá embaixo da ponte. E ninguém via (ou fazia que não via).
Ao entrar realmente na cidade a impressão que se tinha era que o Tsunami tinha passado por ali: entulho, gente, carros, mais entulho, camelôs, motos, mais gente e mais entulho. A quantidade de gente e de camelôs faz lembrar ruas de grandes cidades na época de natal ( e olha que estamos no meio de janeiro).
Nas ruas oferece-se de tudo, por preços variáveis, em línguas mais diversas. "Tudo da melhor qualidade" afirma um vendedor, "o melhor precio, pode procurar", diz um outro em um portunhol enrolado. E a moeda que corre? A maioria dos preços são em dólares, mas com uma boa conversão e negociação paga-se em Reais, Guaranis ou Pesos. Encontram-se bolsas da Louis Vouiton em preços que variam de U$30 a U$100, laptops desde U$400 ( um usado que se podia comprar através de uma foto na loja) até precinhos bem salgados por modelos mais novos. Uma das lojas que entramos parecia uma loja de departamentos americana. Tinha de vinhos a vasos chineses passando por som pra carro.
Na volta esperamos nossa van numa garagem e ficamos observando a movimentação em volta. Uma quantidade de sacoleiros embrulhando, ensacando, guardando. Jovens e mais velhos. Muitos com pochetes, bermudas jeans e tênis. O mínimo necessário e mais confortável possível, para minimizar o calor e a possibilidade de roubo.
Na volta ficamos 2 horas parados no trânsito até passar pela aduana brasileira. E nesse engarrafamento via-se de tudo. Nos carros em volta haviam taxis, lotações, vans com três pessoas esmagadinhas num espaço mínimo que as mercadorias não ocuparam, e a grande maioria amassados, arranhados, batidos. Todos pareciam pequenos para caber a quantidade de coisas que iam dentro e grandes para a quantidade de automóveis que se afunilavam a cada metro. Colocar a mão pra fora ali seria uma automutilação. Pouco mais de um dedo passava entre os carros. Enquanto isso ambulantes ofereciam produtos pelas janelas: roscas de polvilho, melancia cortada, picolé, salgadinho, óculos de sol, cortador de unha, até esteto e esfigmo.
Estavamos já roxos de fome e resolvemos fazer umas compras pela janela da van. Esperei passar uma menina vendendo Pringles e a chamei perguntando quanto era. "Siete, siete". Nisso se aproximou outro menino também com um tubinho na mão me empurrando a batata e eu tentando negociar "por cinco, por cinco". "Cinco esta" e me deu uma similar com um nome que eu nunca ouvi antes. Pelo menos estava gostosa... na embalagem vinha escrito "made in Malasia".
A passagem pela aduana é uma loucura. Alguns poucos fiscais escolhendo alguns poucos automóveis a serem parados e revistados. Até porque, mesmo se tivessem muitos fiscais o fluxo é tão grande que seria impossível parar todos . As motos passam de uma a uma e as pessoas simplesmente passam (não vimos nem motos nem pessoas sendo paradas). Uma senhora nos chamou a atenção: no início da ponte um rapaz a entregou um pacote pequeno perfeitamente quadrado que ela, trêmula, colocou na mochila que carregava. Estava visivelmente transtornada, suava nervosa... Passou tranquilamente pela fiscalização. Nem o seu jeito desconfiado, nem o semblante transtornado fizeram-na ser parada.
Na saída um dos nossos colegas diz "quem vem ao Paraguai uma vez, volta."

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